sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Idolatrar vs. Pensar

Por João Victor Jacetti de Oliveira (@João_Jacetti)


Nas últimas duas semanas, dois assuntos tomaram conta do país. A jornalista Fátima Bernardes deixou a bancada do Jornal Nacional para iniciar um novo projeto. A ideia da consagrada âncora é fazer um programa também de cunho jornalístico, no entanto, envolto por uma aura mais descontraída. O programa fará parte da grade matutina da Rede Globo. Enquanto a jornalista encara um novo começo, o ex-jogador Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, mais conhecido como Doutor Sócrates, jamais voltará a fazê-lo. O “Magrão”, como também era chamado, faleceu no dia 4 de dezembro.


O simples fato de um profissional deixar de lado uma carreira de sucesso para dar início a um novo projeto é algo interessante. Assim como o falecimento de um homem que teve tamanha importância no esporte e na política é algo que chama muita atenção. Não sejamos tolos, todavia, em acreditar que toda a repercussão que este assunto gerou está ligada exclusivamente à vida profissional e pessoal dos cidadãos em questão.


O assunto gerou rebuliço pelo fato de Fátima Bernardes e Dr. Sócrates se tratarem de ídolos da classe média e baixa de nossa sociedade. Luciano Hulk, William Bonner, Faustão, Ronaldo, Ayrton Senna, Restart, Justin Bieber, Brad Pitt. Na televisão, no esporte, na música, no cinema. Seja onde for, nossa sociedade está repleta de ídolos.


O conceito original de ídolo é de uma figura adorada, que é relacionada a poderes sobrenaturais ou a uma existência divina. Obviamente, essa ideia passou por alterações. Hoje em dia, o ídolo nada mais é do que alguém a quem admiramos e em quem nos espelhamos. O ídolo passou a ser, não tão recentemente, uma figura que vem carregada de nossas próprias ideologias, nossos próprios valores. Se bem que, nos últimos anos, mesmo este conceito não se tem feito valer plenamente.


“Meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder. Ideologia, eu quero uma pra viver.”. Assim disse Cazuza. Os ídolos eram ideológicos. Cazuza e Chico Buarque eram mais do que músicos. Um buscava compreender a sociedade em que vivia, outro lutava pela liberdade. Einstein é outro que ia além de sua profissão. Certa vez ele disse: “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”. Che Guevara e Fidel Castro são exemplos de luta ideológica. Muitas vezes, inclusive, se cria uma imagem exagerada de ambos, principalmente de Che, mas o fato é que o pensamento social era o traço marcante que atraía admiradores para ambos. Até mesmo Adolf Hitler, que foi um ídolo em sua própria nação na época do nazismo, era cercado de uma imensa carga ideológica (mesmo que esta fosse repugnante).


Qual a ideologia por trás de Fátima Bernardes? Brad Pitt? Pior: Justin Bieber? Os novos ídolos não se fazem por conceitos lógicos, políticos e sociais, mas sim por “valores” capitalistas. A aparência de Angelina Jolie, o carisma de Luciano Hulk, o status de William Bonner, o talento de Ronaldo. Nada disso vai mudar o mundo. Nada disso quer mudar o mundo. É isso que se idolatra hoje em dia? Sim! Ninguém quer mudar o conceito de superficialidade, ou o de consumismo, muito menos querem perder o jogo de futebol para assistir a um debate político. O povo não quer mudar a sociedade, mas sim se destacar nela. Conseguir fama, fortuna e sucesso.


Nem sequer precisamos nos alongar para dar uma clara imagem de que os ídolos atuais em nada beneficiam a formação do caráter das novas gerações. É claro que os interesses de hoje colaboram para que esta postura de idolatrar alguém seja muito encorajada. Mas, em contrapartida, os valores atuais colaboram também para que nossos ídolos tornem-se cada vez menos merecedores de admiração. Mas será que idolatrar alguém, mesmo que por valores consistentes, é, ou já foi um dia, algo positivo?


As gerações mais velhas tiveram, ao menos teoricamente, ídolos concretos e verdadeiros, nos quais pôde se apoiar. Será que isso colaborou para que eles construíssem uma sociedade livre de desigualdades, preconceitos e egoísmo? Ou será que Francis Bacon estava certo?


O político e filósofo inglês Francis Bacon (1561 – 1626), em um de seus estudos filosóficos, separou em quatro grandes grupos as coisas que podem provocar o erro no raciocínio humano. Na visão de Bacon, cada grupo representava uma falsa noção que nos afetava. Essas noções eram chamadas de ídolos. Ídolos da tribo, ídolos da caverna (uma alusão a platão), ídolos do foro e ídolos do teatro. Respectivamente, essas seriam as falsas noções causadas pelos sentidos, pelos costumes e tradições, pelo mau uso da linguagem e da comunicação, e pela aceitação cega e pronta de algo que vem de uma “autoridade”.


A quarta noção de Bacon é a que mais se assemelha o conceito de ídolo que está sendo debatido. É bastante óbvio, na verdade, que admitirmos como verdade algo que não parte de nossa própria razão, sem se quer levantar um questionamento, é um erro. A “tradução” que bacon faz da palavra ídolo para “noções falsas” ou erros de raciocínio, no entanto, talvez nos diga muito mais do que seu próprio ensaio.


Ídolos podem ser uma boa inspiração. Talvez realmente valha a pena nos espelharmos na força de vontade, na superação, na inteligência, na criatividade, seja no que for de algumas célebres personalidades. No entanto, é necessário cuidado. Cuidado na hora de selecionar quem são esses ídolos. Cuidado na hora de decidir até que ponto essa idolatria é válida. E mais do que tudo, cuidado para que não caiamos no erro de optar pelo caminho mais fácil, através do qual assumimos ideologias e valores daqueles que admiramos, para não precisarmos criar nossa própria cabeça.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Idéias em varejo

Por Said Forhat


O mundo vive em uma época de modas. Independente de quem começa - lutando por uma crença ou somente por dinheiro -, percebe-se uma tendência a somente entrar no fluxo e acompanhar. Fazer parte. A sociedade considerada desenvolvida assumiu valores padronizados, às vezes controlados pela mídia de massa e, ultimamente, aproveitados pelos grandes empresários para gerar lucro.

A música popular moderna é o maior símbolo da massificação. Independente da letra e da melodia, se estiver tocando na rádio mais famosa da cidade, todos estarão cantando. No Brasil, as músicas de Justin Bieber e Rihanna tocam incansavelmente, mas os inúmeros jovens que as escutam não as compreendem. País, também, onde se orgulham de cantores mirins com letras pobres e repetitivas e onde as grandes gravadoras sem dificuldade criam tendências e influências - nem sempre positivas.

Virou moda até lutar por democracia, não importando o significado dela. Juntar-se para a revolução e poder dizer "eu participei, eu lutei", mas não mudar nada social, politica e economicamente. A necessidade de ser componente de um grupo passa os limites do aceitável. Promovem a ocupação de ruas e estabelecimentos, sem causar efeito algum na população. É claro que logo estarão sendo vendidas máscaras de Guy Fawkes e placas de protesto na cor de sua preferência.

Apesar da mídia de massa depender da cultura popular, existe um claro desequilíbrio na soberania. O controle que os meios de comunicação exercem cega a população, mostrando apenas o que a eles é conveniente. É preocupante saber que até a regulação do poder, que deveria estar nas mãos do povo, se perde dentro de uma manipulação externa do capital. As idéias estão sendo vendidas em varejo e, não se preocupe!, sempre pelo preço que se encaixa no seu bolso.